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A COMISSÃO DA VERDADE E O CMI – CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS

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A chamada Comissão da Verdade não tem qualquer intenção de estabelecer a realidade dos fatos históricos, com vistas a proporcionar um benefício maior para a sociedade, mas se move, tão somente, como instrumento de um impulso revanchista de demonstrar a culpabilidade institucional das Forças Armadas e condenar o Estado brasileiro pela repressão às insurgências armadas contra o regime militar de 1964-1985.

Tal objetivo ficou evidenciado com a anunciada decisão de limitar unilateralmente o seu escopo de ação a “investigar os crimes praticados por agentes públicos na ditadura”, sem qualquer concessão a um entendimento objetivo daquele período histórico e, menos ainda, ao necessário estabelecimento de uma harmonia institucional tão necessária nestes tempos de crise global. Crise que, inevitavelmente, tende a se aprofundar, com efeitos agravados, dos quais o Brasil não poderá se esquivar e terá que estar preparado para enfrentar.

Com semelhante agenda, as turbulências geradas pelo trabalho da comissão poderão superar por larga margem quaisquer aspectos positivos decorrentes dessa interpretação peculiar dos direitos humanos, interpretados sob uma ótica ideológica estreita e desvinculados dos interesses maiores da harmonia nacional. Para buscar, realmente, uma verdade histórica vinculada ao bem comum da nação, uma Comissão da Verdade à altura das responsabilidades impostas pelo momento histórico deveria ter como propósito final o estabelecimento de um principio de conciliação, que foi a motivação da Lei da Anistia, que permitiu o retorno à normalidade democrática do País, ainda antes do término do regime militar. Não se trata de um princípio utópico, pois foi a motivação das chamadas “cláusulas de perdão” dos acordos de Westfália de 1648, que encerraram a Guerra dos Trinta Anos, que devastou a Europa Ocidental na primeira metade do século XVII, em uma escala incomparavelmente mais sangrenta do que os conflitos do período abordado pela comissão.

Para uma investigação objetiva daquele período histórico, seria preciso começar com uma avaliação do cenário com o qual o País se defrontava na época e as causas da exacerbação das paixões políticas na década de 1960. Pode-se indagar como as elites brasileiras (entendendo-se a expressão no seu sentido mais amplo) aceitaram a dinâmica da Guerra Fria, de uma forma que dividiu as forças políticas nacionais e debilitou a ideia de um projeto nacional, que vinha se desenvolvendo desde a Revolução Tenentista da década de 1920 e foi uma das forças motrizes da industrialização e modernização do País. Tanto o primeiro período de Getúlio Vargas (1930-1945) – que também é permanentemente atacado como um regime de exceção – como o projeto de desenvolvimento que se seguiu até a década de 1980, integraram esse projeto nacional. Por ironia, o fim do regime militar também implicou no fim desse projeto nacional, substituído por uma mescla pouco coerente de interesses e direitos individuais ou setoriais, em grande medida conflitantes entre si e divorciados dos interesses maiores da sociedade em conjunto – modelo que, em última análise, está na raiz da crise global, por ter superado todos os limites da sua disfuncionalidade intrínseca.

A pergunta que cabe é: a quem interessa esse estado de coisas? A quem beneficia fomentar os ressentimentos internos e a desarmonia da sociedade brasileira, cujos anseios passam longe das intenções da Comissão da Verdade, imposta por minorias ideológicas com forte apoio internacional? A quem beneficia que o Brasil não possa estar unido, civis e militares, em um novo projeto nacional voltado para o desenvolvimento pleno do País e uma meta de garantia da dignidade de todos os cidadãos e famílias brasileiros?

Como veremos a seguir, tais campanhas revanchistas contra as instituições dos Estados nacionais não são promovidas por interesses nacionais legítimos, mas por interesses oligárquicos internacionais, integrantes de uma estrutura de poder sediada no eixo anglo-americano e empenhada no estabelecimento de instituições de “governo mundial”.

O maior apoiador da Comissão da Verdade é o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), entidade que, desde a sua criação, no final da década de 1940, integra o projeto de estabelecimento de um “governo mundial” situado acima da “influência demoníaca da soberania nacional”, como escreveu um de seus mentores. E, para se debilitar uma sociedade por dentro, não há instrumento melhor do que explorar sentimentos humanitários, supostamente religiosos ou ecumênicos. Desde antes da instauração do regime militar, o CMI já estava em campo para os seus desígnios no Brasil. Ele foi a força motriz externa da chamada Teologia da Libertação, que estava no ideário dos principais grupos armados que operaram no País, e sua atuação se deu em estreita coordenação com certos setores do aparato de inteligência anglo-americano.

Em junho de 2011, o CMI repassou ao Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, cerca de 4 mil páginas de documentos relacionados ao projeto Brasil: Nunca Mais!, que se encontravam em sua sede em Genebra, Suíça. Mais tarde, em novembro, o moderador do Comitê Central do CMI, o ex-pastor Walter Altmann [à esquerda], encontrou-se em Brasília com a ministra dos Direitos Humanos Maria do Rosário, para manifestar o apoio do CMI à constituição da Comissão da Verdade. Na ocasião, Altmann entregou à ministra uma cópia em espanhol do livro O Acompanhamento, de Chuck Harper, que relata o apoio do CMI às iniciativas de defesa dos direitos humanos na América Latina, entre as décadas de 1970 e 1990. O titulo completo do livro, publicado em 2006, é O Acompanhamento: Ecumenical Action for Human Rights in Latin America 1970-1990, apresentado por Harper como uma «história da resistência cristã no Brasil» (sic).

Chuck Harper nasceu no Brasil em 1933, filho de missionários presbiterianos estadunidenses que emigraram em 1926. Durante toda a sua vida adulta, tem sido um ativista internacional da Igreja Presbiteriana dos EUA e do CMI, atuando em campanhas de direitos humanos, especialmente no Brasil e nas nações africanas de língua portuguesa. Uma de suas funções foi monitorar o governo militar brasileiro, produzindo relatórios que, agora, foram entregues à Comissão da Verdade. Em entrevista publicada em 15 de julho de 2011, pelo Serviço de Informação da Igreja Presbiteriana dos EUA, ele explicou:

«Os arquivos em questão foram relatos extensivos e altamente detalhados sobre cada pessoa sequestrada, torturada, interrogada e morta pelas forças de segurança. Os oficiais do Exército brasileiro eram obsessivos em guardar arquivos.»

Prosseguindo, diz a nota:

«Em 14 de junho, o secretário-geral do Conselho Mundial de Igrejas, reverendo Olav Fykse Tveit, o líder luterano brasileiro reverendo Walter Altmann, o moderador do Comitê Central do CMI e outros líderes cristãos entregaram aos promotores públicos brasileiros três caixas de registros de arquivos.»

«A transferência formal ocorreu no Gabinete do Procurador-Geral em São Paulo, diante de funcionários governamentais e líderes da Igreja, inclusive dois representantes de organizações ecumênicas que foram torturados pelos militares.»

«Agora, os brasileiros podem saber o que aconteceu enquanto viviam sob o regime militar. Esta é uma parte importante do processo da verdade”, disse Harper à PNS. “O conjunto total dos documentos chega a mais de um milhão de páginas.»

Alguns dos documentos estavam guardados em instituições nos EUA e outros nos arquivos do CMI em Genebra.

Harper atuou de 1973 a 1992 como coordenador do Programa de Direitos Humanos na América Latina do CMI, desempenhando um papel chave na reunião e preservação da documentação brasileira. Ele também trabalhou em projetos de justiça para os povos das colônias portuguesas na África, no início da década de 1970.

Os documentos dos arquivos de Genebra estão sendo examinados pela equipe do Procurador-Geral e, em seguida, serão confiados ao ministro da Justiça do Brasil.

«Esses [documentos] estavam contidos em um dos arquivos de processos legais realizados nos tribunais militares brasileiros, durante o período de 1964 a 1979. Milhares desses registros foram obtidos dos arquivos do Exército, com base nas provisões da [Lei da] anistia» — disse Harper.

Eles foram copiados clandestinamente e catalogados, tornando-se um registro paralelo ao dos próprios arquivos de torturas das autoridades militares.

Em 1986, a Arquidiocese de São Paulo, dirigida pelo arcebispo cardeal Paulo Evaristo Arns e apoiada pelo Conselho Mundial de Igreja, publicou um relatório chamado Brasil: Nunca Mais.

Harper foi amigo íntimo e atuou em estreita coordenação com o pastor Jaime Wright (1927-1999), que foi um dos principais líderes presbiterianos do Brasil e, juntamente com Evaristo Arns e o rabino estadunidense Henry Sobel, um dos líderes da comunidade judaica em São Paulo, os responsáveis pela publicação do livro Brasil: Nunca Mais.

A agenda secreta do CMI

Uma contundente denúncia sobre o insidioso papel desestabilizador do CMI partiu do cardeal Joseph Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano [hoje papa Bento XVI]. Em uma entrevista à Folha de S. Paulo de 10 de junho de 1997, ele afirmou: “Grande parte dos bispos católicos da América Latina se lamentam comigo do fato de que o Conselho Ecumênico de Igrejas [como o CMI também é conhecido] tem dado grande ajuda a movimentos de subversão, ajuda que talvez tivesse boas intenções, mas que acabou sendo bastante danosa para o Evangelho.”

No Brasil, essa campanha de subversão permanente transcende a frente dos direitos humanos. De fato, o CMI tem financiado e promovido diversas iniciativas contra o desenvolvimento e a soberania do País, com ênfase nas questões agrárias, ambientais e indigenistas, além de ser um dos principais promotores das campanhas de desarmamento civil. Entre as organizações não-governamentais (ONGs) que recebem o seu apoio direto, destacam-se o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), Via Campesina, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e Instituto Socioambiental (ISA). Praticamente cada grande projeto de infraestrutura e logística implementado no País, nas últimas décadas, tem se defrontado direta ou indiretamente com uma ação do CMI.

Em linhas gerais, pode-se afirmar que o CMI está engajado em uma autêntica “guerra de quarta geração” contra o Estado nacional brasileiro, manipulando setores de sua própria sociedade contra os seus próprios interesses.

A atuação política do CMI pode dar a impressão de que a sua origem se situa no campo da ideologia marxista, mas a realidade é que esta configuração foi apenas a mais conveniente para os desígnios de subversão dos Estados nacionais soberanos, pretendidos pelos seus criadores. Os recursos para a fundação da entidade, em 1948, provieram da Fundação John D. Rockefeller, ele próprio um entusiasta das “causas ecumênicas” para combater as raízes católicas do subcontinente ibero-americano, sendo o principal promotor da agenda de penetração das igrejas pentecostais na América Latina, desde o início do século passado.

A utilização da defesa dos direitos humanos, como um instrumento de debilitação dos Estados nacionais e o favorecimento das estruturas de “governo mundial”, foi meticulosamente planejada como uma estratégia de longo prazo. Durante a Conferência de Paris, em 1919, após o término da I Guerra Mundial, grupos da elite anglo-americana emergente, herdeiros do ideal imperial britânico, se uniram com o propósito deliberado de transformar a recém-criada Liga das Nações em uma estrutura de governança mundial. Ali se idealizou a criação do que mais tarde seria o CMI, que seria uma “igreja do governo mundial”, um novo Pantheon romano, supostamente, ecumênico e cristão. Foi esta a raiz da difusão de um ecumenismo internacionalista sui generis, associado a uma teologia política, um “evangelho social”, de onde se alimentou mais tarde a Teologia da Libertação (daí vem o parentesco carnal do CMI com esta última).

Entre os mentores da agenda, destacam-se:

Philip Henry Kerr, marquês de Lothian (1882-1940), membro destacado do Kindergarten de lorde Alfred Milner, um dos principais grupos de articulação do Establishment britânico da época;

Leonel Curtis (1872-1955), fundador do Royal Institute for International Affairs (RIIA) de Londres (1920) e do Council on Foreign Relations (CFR) de Nova York (1921), instituições que, desde a sua criação, têm servido como centros de articulação do poder anglo-americano que herdou a teia de interesses coloniais britânicos;

Sir Alfred Eckhard Zimmern (1879-1957), historiador britânico, membro do Departamento de Inteligência Política, criado pelo Foreign Office em 1918, para preparar a ordem mundial do pós-guerra;

John Foster Dulles (1888-1959), cofundador do CFR, funcionário de John D. Rockefeller e secretário de Estado no governo Eisenhower (1953-1961). Seu irmão Allen Dulles foi diretor da CIA durante o mesmo período. Os irmãos Dulles eram filhos de um proeminente pastor presbiteriano e John F. Dulles foi, ele próprio, o mais alto representante da Igreja Presbiteriana dos EUA e presidente do Conselho Nacional de Igrejas dos Estados Unidos. Tais vínculos não deixam dúvidas que a Igreja Presbiteriana dos EUA e, por meio dela, o CMI, foram e, provavelmente, continuam sendo parte fundamental dos serviços de inteligência da oligarquia anglo-americana.

Os quatro personagens acima citados tinham ligações com o missionário escocês J.H. Oldham (1874-1969), que foi uma peça fundamental no desenvolvimento da rede do ecumenismo missionário que resultou na criação do CMI, em 1948.

A Guerra Fria, em grande medida fomentada por ele próprio, proporcionou a esse aparato de poder oligárquico a oportunidade para perpetuar o sistema colonial, que deveria ter desaparecido com o colapso do Império Britânico e seus similares europeus, tal como imaginava o presidente Franklin D. Roosevelt (1933-1945) em seus planos para o pós-guerra. Com o conflito Leste-Oeste, os reformadores do Império Britânico e os interesses liderados pela família Rockefeller nos EUA se encargaram de desconstruir o legado de Roosevelt, promovendo uma ordem mundial baseada na força, sob o pretexto do combate ao inimigo comunista, cujo poderio e intenções foram dramaticamente exagerados.

Contra esse cenário, os países da América Latina foram forçados a se engajar no conflito ideológico, mergulhando em um processo antinacional do qual ainda não se livrou. Um marco deste processo foi a promoção do golpe de Estado contra o presidente da Guatemala, Jacobo Arbenz, em 1954, diretamente dirigido pelos irmãos Dulles, com a intervenção direta da CIA, que abriu caminho para uma pletora de outras intervenções políticas em toda a região.

Porém, embora tais ações sejam bem documentadas, menos conhecido é o outro braço com o qual essa estrutura de “governo mundial” oligárquico operava e fomentava as oposições radicais de esquerda – o que era feito por meio do CMI e, em especial, as redes da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos em países em desenvolvimento (principalmente, na América do Sul), que atuavam na região desde as primeiras décadas do século XX.

A tragédia da “Cláusula de Culpabilidade” de Versalhes

Seria uma boa sugestão que a Comissão da Verdade revisasse as consequências históricas da chamada “Cláusula de Culpabilidade da Guerra”, como é conhecido o artigo 231, seção VII, que trata das reparações de guerra do Tratado de Versalhes, que encerrou a I Guerra Mundial. Aqui, não nos referimos ao fato de que o Estado brasileiro já vem pagando uma espécie de “reparação de guerra” às vítimas reais e supostas do período da repressão política. O relevante são as lições de como a imputação à Alemanha de toda a culpabilidade pelo conflito, com o consequente estabelecimento das impagáveis reparações de guerra, provocaram um enorme ressentimento na sociedade alemã, o qual foi a causa direta da emergência do regime nazista, que soube explorar o sentido de injustiça das negociações de Versalhes, impulso que desembocou, inevitavelmente, nas tragédias da II Guerra Mundial.

Vale destacar que John Foster Dulles foi um dos mentores da “Cláusula de Culpabilidade”, na condição de assessor do presidente Woodrow Wilson (1913-1921) nas conferências de Paris. Com tais motivações, a ênfase do Tratado de Versalhes não era a paz mundial, mas a intenção de dobrar a nação alemã aos desígnios da emergente hegemonia anglo-americana, em sua pretensão de estabelecer uma estrutura de “governo mundial”.

Em Versalhes, como durante a Guerra Fria, pouco se mostraram os sentimentos ecumênicos cristãos do ex-pastor presbiteriano John Foster Dulles. Por isso, seria de bom alvitre que a Comissão da Verdade se instruísse melhor sobre as consequências potencialmente ruinosas de tais agendas sectárias para a harmonia das nações. Do tortuoso caminho da tradição legal da “Cláusula de Culpabilidade” de Versalhes, que esta no “DNA” do CMI, pode existir um atalho de saída para a “Cláusula do Perdão” que regeu os históricos acordos de Westfália. Os dois caminhos apontam para destinos divergentes – mas apenas um leva aos reais interesses das nações e seus povos.

Lorenzo Carrasco

Movimento de Solidariedade Íbero-americana

Créditos este post é matéria apresentada no Boletim Eletrônico MSIa INFORMA, do MSIa – Movimento de Solidariedade Íbero-americana, Vol. IV, No 17, de 05 de outubro de 2012.

MSIa INFORMA é uma publicação do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa). Conselho Editorial: Angel Palacios, Geraldo Luís Lino, Lorenzo Carrasco (Presidente), Marivilia Carrasco e Silvia Palacios. Endereço: Rua México, 31 – sala 202 – Rio de Janeiro (RJ) – CEP 20031-144; Telefax: 0xx 21-2532-4086.

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