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Realidade versus mito
Na discussão sobre o estado do mundo, é essencial considerar os aspectos fundamentais. Isso exige uma alusão às tendências globais e de longo prazo, considerando sua importãncia principalmente em relação ao bem-estar humano.
Porém, é crucial também que citemos números e tendências que sejam verdadeiros.
Tal demanda pode parecer óbvia, mas infelizmente o debate sobre o meio ambiente caracteriza-se pela desagradável tendência a um tratamento bastante ousado da verdade. Trata-se de uma expressão do fato de que essa ladainha está tão entranhada no debate, e durante tanto tempo, que é possível fazer alegações equivocadas, alardeadas espalhafatosamente, repetidas vezes, sem qualquer referência – alegações nas quais as pessoas acreditam.
Veja bem: isso não se deve a pesquisas primárias no campo ambiental; em geral, são pesquisas profissionalmente competentes e bem-estruturadas. Deve-se, sim, à comunicação do conhecimento sobre o meio ambiente, que se aproveita de crenças proféticas sobre o fim do mundo. Tal propaganda é apresentada por muitas organizações de defesa do meio ambiente, como o Worldwatch Institute, o Greenpeace e o World Wide Fund for Nature e por muitos comentadores, sendo prontamente captada pela mídia.
O número de exemplos é tão grande que só eles já dariam um livro separado. Apresentarei diversos deles ao longo deste livro e, no próximo capítulo, analisaremos especificamente sua ligação com a mídia. Entretanto, vamos analisar aqui alguns dos exemplos de maior destaque da construção de mitos sobre o meio ambiente.
Bjørn Lomborg
Realidade: o Worldwatch Institute
Muitas vezes, as origens da ladainha [ambientalista] remontam – direta ou indiretamente – a Lester Brown e seu Worldwatch Institute. Suas publicações estão repletas de declarações como: «Os principais indicadores ambientais são cada vez mais negativos. As florestas estão desaparecendo, os recursos hídricos estão se exaurindo, os solos estão sofrendo erosão, os peixes estão morrendo, a Terra está se deteriorando, os rios estão secando, as temperaturas estão aumentando, os recifes de coral estão morrendo e espécies de plantas e animais estão desaparecendo». Uma leitura de impacto – sem referências sólidas.
Florestas
Ao discutir as florestas, o Worldwatch Institute afirma categoricamente que «nas últimas décadas, o estado das florestas no mundo piorou significativamente tanto em termos de área quanto de qualidade». Como veremos na seção sobre florestas, a série mais longa de dados da FAO, órgão das Nações Unidas, mostra que a cobertura florestal mundial aumentou de 30,04% da área de terra no mundo em 1950 para 30,89% em 1994, um aumento de 0,85 ponto percentual nos últimos 44 anos. No entanto, esses números não aparecem no relatório; dizem-nos apenas que, «a cada ano, desaparecem mais 16 milhões de hectares de florestas» – um número 40% acima do número mais recente divulgado pelas Nações Unidas. Também não se faz referência a números relativos à qualidade das florestas – simplesmente porque tais números não existem.
Além disso, cometem-se erros grosseiros com uma frequência lamentável. O Worldwatch Institute argumenta que «o enorme aumento da demanda de papel está contribuindo para o desmatamento, particularmente na zona temperada do norte. O Canadá perde cerca de 200.000 hectares de floresta por ano». Faz-se referência ao relatório da FAO, «State of the World’s Forest 1997» – mas, se analisarmos tal fonte, constataremos que, na verdade, o Canadá plantou 174.600 a mais hectares de florestas ao ano.
Pessimismo geral
No relatório de 2000, o Worldwatch Institute enumera os problemas apresentados em sua primeira publicação sobre o estado do mundo, de 1984. Aqui está a lista completa: «Taxas recordes de crescimento populacional, preços altíssimos do petróleo, níveis debilitantes da dívida internacional e danos excessivos às florestas resultantes de um novo fenômeno, a chuva ácida.» Naturalmente, a avaliação de tal lista na virada do milênio poderia ser um bom ponto de partida para tomarmos conhecimento de importantes questões, perguntando-nos se superamos problemas anteriores. Entretanto, o Worldwatch Institute nos diz, imediatamente, que não resolvemos tais problemas: «Longe disso. Ao completarmos a 17ª edição do relatório «State of the World», estamos prestes a entrar no novo século sem resolver todos esses problemas e, hoje, estamos diante de desafios ainda mais profundos ao futuro da economia global. A brilhante promessa de um novo milênio hoje é recoberta por uma nuvem de ameaças inéditas ao futuro da humanidade.» O Worldwatch Institute não volta para analisar a lista – simplesmente nos afirma que os problemas não foram resolvidos e que, de lá para cá, acrescentamos outros problemas à lista.
Será que a ladainha resiste à análise dos dados?
O nível da dívida internacional pode ser o único item no qual não vimos melhoras significativas: embora o nível da dívida tenha diminuído, uniformemente, ao longo da década de 1990, o declínio foi mínimo, de 144% das exportações, em 1984, para 137%, em 1999.
Entretanto, como veremos, embora a chuva ácida danifique os lagos, quase não provocou danos às florestas. Além disso, as emissões de enxofre responsáveis pela chuva ácida diminuíram tanto na Europa quanto nos Estados Unidos – na União Européia, houve uma redução de 60% nas emissões desde 1984.
O enorme aumento nos preços do petróleo, que custou ao mundo um lento crescimento da década de 1970 até meados da década de 1980, caiu ao longo da década de 1990 para um preço comparável ou inferior ao vigente antes da crise do petróleo. Embora os preços do petróleo tenham dobrado desde meados de 1998, o preço no primeiro trimestre de 2001 equivale ao preço de 1990, e os US$25 do barril, em março de 2001, ainda estão bem abaixo do pico do início da década de 1980, quando chegou a US$60. Além disso, muitos consideram esse pico uma ocorrência de curto prazo, e a estimativa da US Energy lnformation Agency é que o preço do petróleo se estabilize durante os próximos 20 anos em aproximadamente US$22 o barril.
Finalmente, falar em taxas recordes de crescimento populacional é simplesmente errado, pois o recorde ocorreu em 1964, com 2,17% ao ano. Desde então, o recorde vem diminuindo constantemente, tendo chegado a 1,26% em 2000; espera-se que caia para abaixo de 1% no ano 2016. Até mesmo o número absoluto de pessoas acrescentadas à população mundial chegou ao seu pico em 1990, com 87 milhões, caindo para 76 milhões em 2000, e ainda em queda hoje.
O mundo não está piorando
Portanto, em sua rápida avaliação do estado do mundo desde 1984, o Worldwatch lnstitute apresenta uma lista de problemas, todos os quais melhoraram de lá para cá, e todos (exceto um) melhoraram consideravelmente; além disso, um dos itens da lista está simplesmente errado. Certamente este não é um resultado positivo em todos esses 16 anos de análises – supostamente meticulosas – nos relatórios do Worldwatch lnstitute. O problema, obviamente, não é a ausência de dados – o Worldwatch lnstitute divulga ótimos dados – mas simplesmente o descuido que acompanha a crença profundamente arraigada na ladainha.
A crença num futuro pior – sem provas
Tal crença também está visível nas visões do Worldwatch lnstitute para o futuro. Afinal, na citação de 2000 apresentada anteriormente, eles nos prometem que enfrentaremos «desafios ainda mais profundos» e «ameaças inéditas» no futuro da humanidade. Tais ameaças geralmente são resumidas em uma conexão que praticamente se tornou uma marca registrada do Worldwatch lnstitute, ou seja, de que a economia em constante expansão acabará minando os sistemas naturais do planeta. Na edição de 2000, proclama: «Com a expansão da economia global, os ecossistemas locais estão entrando em colapso em um ritmo cada vez mais acelerado.» Obviamente, gostaríamos de ver esse ritmo acelerado documentado. O Worldwatch lnstitute continua:
«Mesmo que o Dow Jones tenha atingido um novo pico durante a década de 1990, os ecologistas observaram que as crescentes demandas humanas acabariam provocando colapsos locais, uma situação na qual a deterioração substituiria o progresso. Ninguém sabia que forma esse colapso assumiria, se seria escassez de água, escassez de alimentos, doenças, conflitos éticos internos ou conflitos econômicos externos.»
Veja bem, não nos ofereceram documentos que sustentem esses colapsos. Além disso, os ecologistas (cujos nomes não foram citados) têm certeza de que eles virão, mas aparentemente “ninguém” sabe que forma essa ruptura assumirá. E, finalmente, criar uma lista ampla como a anterior, que inclui até conflitos éticos internos, assemelha-se a aumentar as apostas e, ao mesmo tempo, ter uma conexão totalmente inexplicável e não-documentada com o colapso ambiental.
“Exemplo” africano não procede
Porém, logo depois disso, o Worldwatch Institute nos oferece o principal exemplo de ruptura causada pela constante expansão da economia que destrói os ecossistemas locais: «A primeira região na qual o declínio está substituindo o progresso é a África subsaariana. Nessa região, onde vivem 800 milhões de pessoas, a expectativa de vida – um dos indicadores do progresso – cai vertiginosamente à medida que os governos, sobrecarregados pelo rápido crescimento populacional, não conseguem deter o avanço do vírus que provoca a AIDS.» Para tornar a implicação perfeitamente clara, o Worldwatch Institute observa que essa infecção pelo vírus da AIDS «demonstra que alguns países talvez já tenham cruzado o limite da deterioração/declínio».
Esse exemplo primoroso do colapso de um ecossistema é surpreendente, para não dizer outra coisa. É verdade que o HIV/AIDS diminuiu e continua diminuindo a expectativa de vida na África subsaariana e que, em alguns países, causou declínios chocantes. Entretanto, seria isso causado pelo crescimento da economia que destrói o ecossistema? Em uma das mais recentes análises da AIDS na África, apresenta-se com bastante clareza a causa:
«A maior incidência de AIDS decorre da incapacidade de políticos e líderes religiosos africanos de reconhecerem a realidade social e sexual. Já conhecemos os meios para conter e vencer a epidemia, e eles poderiam ser eficazes se as lideranças pudessem ser induzidas a adotá-los. A ausência de mudanças comportamentais individuais e da implementação de uma política governamental eficaz tem suas raízes nas atitudes em relação à morte e no silêncio sobre a epidemia que surgem das crenças sobre sua natureza e o momento da morte.»
Em uma reportagem publica da na revista The Lancet, argumenta-se que:
«Dois principais fatores são responsáveis pela epidemia de AIDS nos países em desenvolvimento: primeiro, a relutância dos governos nacionais em assumir a responsabilidade pela prevenção da infecção pelo HIV; e, segundo, a incapacidade, tanto dos governos nacionais quanto dos órgãos internacionais, de definir prioridades realistas que possam ter um efeito sobre a epidemia geral em países com recursos escassos e fraca capacidade de implementação.»
Em outras palavras, a rápida disseminação da AIDS na África deve-se principalmente a fatores políticos e sociais. A tragédia está óbvia e exige a atenção e o esforço dos países desenvolvidos, mas não é um sinal de um colapso ecológico induzido pela contínua expansão da economia. Além disso, a obsessão em mostrar que, finalmente, encontraram um exemplo concreto de declínio parece mal colocada e infundada.
Exemplo “concreto”
Mas o Worldwatch Institute também nos dá outro exemplo concreto de colapso ecológico quando aponta os perigos das interações complexas. Vamos citar o parágrafo inteiro para ver a extraordinária transição dos argumentos gerais para exemplos concretos:
«O risco em um mundo onde nascem 80 milhões de pessoas por ano é que serão transpostos tantos limites de produção sustentável em um período tão curto que as consequências serão inadministráveis. Historicamente, quando as primeiras civilizações viviam basicamente em isolamento, as consequências da ultrapassagem de tais limites eram estritamente locais. Hoje, na era da integração econômica global, a ultrapassagem de um desses limites em um país importante pode pressionar ainda mais outros recursos nos outros países. Por exemplo, quando Pequim proibiu o corte de madeira ao norte da bacia do rio Yang-tsé, em 1998, a maior demanda de produtos florestais por parte dos países vizinhos no sudeste asiático intensificou a pressão sobre as florestas restantes da região.»
Portanto, o melhor exemplo que o Worldwatch Institute pode nos apresentar do colapso descontrolado do mundo é uma mudança na produção de madeira de uma quantidade não-documentada, o que os economistas descreveriam exatamente como uma decisão de produção eficiente: o governo chinês descobriu que produzir árvores ao norte da bacia do Yang-tsé é um mau negócio, pois as árvores são mais bem usadas para moderar as enchentes.
Economia – e não ecologia
Ironicamente, o Worldwatch Institute alega que a proibição do corte dessa madeira é uma prova de que «os princípios da ecologia estão substituindo a economia básica na gestão das florestas nacionais». O motivo é que o ponto de vista de Pequim «hoje é que uma árvore em pé vale três vezes mais do que uma árvore derrubada, simplesmente devido àcapacidade de armazenamento de água e controle de enchentes das florestas». Obviamente, trata-se apenas da pura e simples (e provavelmente lógica) análise da relação custos/benefícios sociais – boa economia e não ecologia.
Declarações que não se sustentam em fatos comprováveis
Portanto, as proeminentes e repetidas declarações do Worldwatch Institute aqui analisadas parecem indicar que as alegações da ladainha do colapso ecológico baseiam-se em exemplos muito frágeis ou simplesmente não se sustentam em fatos comprováveis. (Vale a pena observar também que essas citações enfatizam o perigo de argumentações com base em exemplos isolados, e não em tendências globais, como observamos anteriormente.)
Obviamente, embora tais citações mostrem alguns dos argumentos mais convincentes em favor da ladainha no relatório sobre a situação do mundo, o Worldwatch Institute oferece uma longa lista de outros exemplos e análises dentro de diferentes áreas, e teceremos comentários sobre eles ao avançarmos nos tópicos aqui apresentados.
Bjørn Lomborg
Créditos ➞ Este post é matéria apresentada no livro «O Ambientalista Cético», da autoria de Bjørn Lomborg, em sua Parte 1 – «A Ladainha», tópico 1 – «As Coisas Estão Melhorando».
O livro a ler é ➞ «O Ambientalista Cético», de Bjørn Lomborg (Editora Campus/Elsevier, RJ).
Este livro deve ser lido por todos aqueles que se interessam por assuntos ambientais, sustentabilidade etc, pois apresenta um contraponto a toda uma tendência alarmista e catastrofista em relação às mudanças climáticas e às influências do ser humano no meio ambiente.
Pode ser encontrado nas boas livrarias.
Imagens ➞ http://en.wikipedia.org ; http://naraiz.wordpress.com
http://biosferams.org ; http://variandoideias.blogspot.com
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