O WWF – quem diria! – foi apanhado em uma associação promíscua com empresas “desmatadoras”. A denúncia foi feita na semana passada pela ONG estadunidense Global Witness, que divulgou um polêmico relatório em que acusa o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) de permitir que a sua marca seja apropriada por empresas que exploram o meio ambiente de maneira predatória, favorecendo e encobrindo as suas atividades sob o selo de “sustentabilidade” da ONG que é uma das jóias da Coroa britânica.
Selo Verde é álibi
Segundo a Global Witness, um dos programas da WWF, chamado Rede Global de Florestas e Comércio (GFTN, na sigla em inglês), que apoia o comércio de madeira legal e sustentável, tem critérios de seleção demasiadamente brandos, possibilitando que empresas acusadas de desmatamento ilegal, ameaças a espécies e desrespeito de direitos humanos, tenham acesso ao seu selo de sustentabilidade.
O título original do estudo, «Pandering to the Loggers» (em tradução livre, «Contemporizando Diante dos Madeireiros»), satiriza o conhecido símbolo do WWF, o panda, em alusão a tal relação absolutamente contraditória e incoerente com os princípios trombeteados pela ONG internacional.
Entre as empresas citadas, estão: a madereira malaia Ta Ann Holdings Berhad, acusada de desmatar uma área equivalente a 20 campos de futebol por dia, em Bornéu; a britânica Jewson, que, mesmo após 10 anos de associação com o WWF, não eliminou a madeira de origem ilegal; e a suíça-alemã Danzer Group, contra a qual pesam inúmeras acusações de violação de direitos humanos, em países como a República Democrática do Congo.
Regras ambientalistas muito flexíveis…
Em um boletim de imprensa, Tom Picken, líder da campanha de florestas da Global Witness, declarou:
«As regras da GFTN são menos rigorosas do que as leis dos EUA e da União Europeia, que proíbem a importação de madeira ilegal. Quando um programa emblemático criado em nome da sustentabilidade e da conservação tolera que uma de suas empresas membro destrua o habitat do orangotango, é algo que vai realmente mal» (O Estado de S. Paulo, 25/07/2011).
O relatório da Global Witness ressalta que, em relação à compra de madeira ilegal por distribuidores associados ao WWF, «as regras de filiação se mostraram ineficientes em parar essas compras». O estudo afirma ainda que «os mapas do WWF sugerem que os orangotangos se tornaram extintos entre 1989 e 2004, em uma área de 135 mil hectares onde a Ta Ann foi licenciada ou contratada para derrubar árvores durante pelo menos parte desse período» (CarbonoBrasil, 26/07/2011).
Ao comentar tais dados, Piken manifestou a sua indignação, ao constatar tal incoerência por parte de uma das ONGs mais respeitadas e tidas como exemplo entre os ambientalistas: “O WWF deveria se desvincular publicamente de qualquer empresa que utilize madeira de origem ilegal ou pouco ética. É revoltante que um dos grupos de conservação mais reputados do mundo considere aceitável se beneficiar economicamente destas empresas.”
Desculpa esfarrapada
Em resposta à denúncia, o WWF tentou se justificar:
«A GFTN não faz quaisquer reivindicações de sustentabilidade, nem endossa companhias, suas políticas ou seus produtos. O WWF desafia as companhias a aspirarem à liderança em questões ambientais. A GFTN é o programa da WWF que trabalha com empresas comprometidas a fazer mudanças em suas operações florestais e/ou nas práticas de terceirização.»
Outras ONGs ambientalistas têm sido acusadas de se associar com empresas que destroem o meio ambiente, entrando em contradição com as suas bandeiras salvacionistas. Entre elas, The Nature Conservancy (TNC) e a Conservação Internacional (CI), acusadas de se associarem a grandes empresas, como a Bunge, Exxon Mobil e Shell (CarbonoBrasil, 26/07/2011). Tal facilidade das grandes ONGs ambientalistas internacionais para deixar em segundo plano o discurso “verde”, em favor de polpudos patrocínios, é mais comum do que se imagina e denota que, além de instrumento político, o ambientalismo é cada vez mais um rentável meio de vida para seus militantes profissionais.
Créditos ➞ este post é matéria apresentada no boletim «Alerta Científico e Ambiental», Ano 18, nº 30, de 04 de agosto de 2011 — uma publicação da Capax Dei Editora Ltda. (Rua México, 31, s. 202, CEP 20031-144, Rio de Janeiro-RJ; telefax 0xx-21-2532-4086). Introduzi subtítulos no texto para facilitar e incentivar a leitura.
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